Erosão acelerada em área de pastagem na bacia hidrográfica do rio São Pedro, município de Macaé, estado do Rio de Janeiro. Foto: HugoAlves S. Loureiro, 2012.

Conservar o solo para preservar a água e reduzir a fome

Por Luana Rangel – no site O Eco

Erosão de solo em Santo Antônio de Pádua, município no noroeste do estado do Rio de Janeiro, 2008.

Erosão de solo em Santo Antônio de Pádua, município no noroeste do estado do Rio de Janeiro, 2008.

A ONU declarou 2015 o Ano Internacional do Solo. O objetivo é reduzir o número de pessoas que ainda passam fome no mundo, visto que o aumento da erosão de solos reduz as terras férteis e, logo, a produção de alimentos. O elemento comum na degradação do solo é o aumento do seu uso para produção de alimentos ou urbanização.

O solo é um recurso essencial para a humanidade, porém visto como um recurso renovável, cuja degradação pode ser revertida rápido. Ao contrário, a formação dos solos é um processo lento,em escala de tempo geológica,durante a qual se formam os minerais e as rochas se desagregam.

O solo depende de fatores como clima e organismos — a microflora e microfauna, vegetais, animais e o homem. Também é função do tipo de rocha que o originou e o relevo em que se encontra.

De acordo com os fatores de formação, o solo pode apresentar maior concentração de elementos orgânicos, de argila, de ferro, entre outros, o que caracterizará o tipo de atividade para o qual é propício. Por exemplo, para a construção de edificações o solo deve ser coeso, sem grande concentração de areia, um material que se esfarela. Já para a atividade agrícola, deve conter matéria orgânica e elementos essenciais para o crescimento das plantas.

Para a agricultura, sua fertilidade depende da presença de nutrientes específicos, tais como cloro, boro, zinco, manganês, níquel, cobalto, molibdênio, ferro, cobre, nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio, enxofre e magnésio.

Erosão em área agrícola na Estrada Capelinha, município de Itaperuna, Rio de Janeiro, 2008.

Erosão em área agrícola na Estrada Capelinha, município de Itaperuna, Rio de Janeiro, 2008.

A FAO destaca que 33% dos solos mundiais estão degradados.

A atividade agrícola sem cuidados em áreas íngremespode prejudicar o solo, assim como a mecanização inadequadapode compactá-lo. O arado e a passagem de máquinas produzem erosão pela concentração de água da chuva em pequenos sulcos. O processoerosivofavorece a perda de nutrientes para o desenvolvimento das plantas, e pode provocar o empobrecimentoe a acidificação do solo, principalmente quando ocorrem queimadas. A utilização exagerada de fertilizantese plantio constante do mesmo tipo de cultura – que retira da terra sempre os mesmos nutrientes – exaurem o solo.O resultado pode ser a queda da sua produtividade para o cultivo.

Os processos de salinização e de encharcamen to do solo são responsáveis por aproximadamente 15% de perda de terras produtivas no mundo (FAO, 2015).

Prática de queimada em área agrícola para “limpar” os restos da produção anterior, no município de Paraty, Rio de Janeiro, 2012.

Prática de queimada em área agrícola para “limpar” os restos da produção anterior, no município de Paraty, Rio de Janeiro, 2012.

O manejo hídrico mal realizado degrada terras agricultáveis, pois a drenagem inadequada encharca o solo por provocar a subida do lençol freático, ou salinizá-lo, o que ocorre quando a drenagem ineficiente produz acumulação de sais na superfície e matam as plantas. Este processo é recorrente em climas áridos ou semiáridos, onde a precipitação é escassa e os sais não são lavados do solo, como em áreas do semiárido brasileiro.

A ONU estima que a atual taxa de desertificação sejapróxima de 21 milhões de hectares por ano, área semelhante a do estado do Paraná. Mudanças no clima são o principal fator por trás deste processo, que pode ocorrer tanto por causas naturais, quanto pela intervenção humana. Entre as últimas, intensificam a desertificação a emissão de poluentes, desmatamento e asobre utilização dos recursos hídricos.

Se não adotarmos práticas de conservação perderemos a base para a produção de alimentos. As florestas não se desenvolverão e, logo, faltará água. Por isto, devemos usar 2015, ano Internacional do Solo, para dar o alerta: sem cuidados vamos esgotar uma das bases para a sobrevivência humana.

Erosão acelerada em área de pastagem na bacia hidrográfica do rio São Pedro, município de Macaé, estado do Rio de Janeiro. Foto: HugoAlves S. Loureiro, 2012.

Erosão acelerada em área de pastagem na bacia hidrográfica do rio São Pedro, município de Macaé, estado do Rio de Janeiro. Foto: HugoAlves S. Loureiro, 2012.

*Luana Rangel é geógrafa e doutoranda em Geografia na UFRJ, com ênfase na área de planejamento e gestão ambiental e degradação dos solos.

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