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Artigos do professor Lauro Bacca sobre a implantação de Complexo Eólico no Campo dos Padres

O professor Lauro Bacca, escreveu uma série de três artigos publicados no Jornal O Santa, sobre a construção de um Parque Eólico na região de Campo dos Padres destinada a criação de uma Unidade de Conservação Nacional, acompanhe:

Artigo 1  JSC de quinta, 30/06/2016

“Um lugar muito especial, dentro dos 8% que restou de Floresta Atlântica no país”

Altitudes acima de 1.600 metros mal cobrem um milésimo da superfície estadual, com contribuição praticamente nula para a economia. No entanto, o valor ambiental dessas áreas é inestimável, dadas as peculiaridades da topografia, geologia, solos, clima, paisagem, hidrologia e ecologia. Raridades da fauna, da flora e da micota (fungos) e abrigo de espécies ameaçadas são consequência dos ambientes únicos dessas alturas meridionais onde o mosaico verde é formado por campos de altitude, turfeiras, afloramentos rochosos ajardinados de musgos, líquens e inúmeras ervas, matas nebulares e capões de florestas com Araucárias. Um lugar muito especial, dentro dos 8% que restou de Floresta Atlântica no país.

Apesar da óbvia vocação para a conservação, o governo não considerou as terras acima da cota 1.600 como de preservação permanente, optando apenas pelas altitudes acima dos 1.800 metros, ou seja, ridículos 0,000005% do território estadual, critério nada técnico, mas tendencioso, como veremos a seguir.

Acima dos 1.800 metros existem apenas três pontos no Estado: os morros da Boa Vista (1827m), do Bela Vista (1823,5m) e o já famoso Morro da Igreja, com 1822 metros, locais de nascentes de três grandes bacias hidrográficas estaduais, dos rios Itajaí, Tubarão e Canoas. As visitas ao Morro da Igreja têm impulsionado o turismo, fazendo do Parque Nacional de São Joaquim, em Urubici, o quinto mais visitado do Brasil, respondendo por grande parte da ocupação de hotéis e pousadas na região. Quanto aos outros morros, os próprios nomes, Boa Vista e Bela Vista, já evidenciam sua espetacular vocação para o turismo de áreas abertas.

Não há, portanto, melhor proposta de uso da região do que o projeto de criação do Parque Nacional do Campo dos Padres, pronto para ser assinado, com cerca de 60 mil hectares englobando as partes mais belas de oito municípios, garantindo-se assim a preservação paisagística, ecológica e turística da mais espetacular feição geomorfológica do Brasil, a região dos Aparados da Serra.

O impensável, no entanto, está acontecendo. Justo no teto de Santa Catarina, está se propondo a instalação de 240 monstruosas torres aerogeradoras de energia, o que, em termos ecológicos, paisagísticos e turísticos, equivale a acabar com as Cataratas do Iguaçu para produção de energia hidroelétrica e isso a sociedade não pode aceitar de jeito nenhum. Que me desculpem os empreendedores, mas megawatt nenhum justificará o impacto ambiental naquela região. Nossa fome de energia é real, mas não pode ser assassina.

Artigo 2  JSC de quinta, 07/07/2016

“O Campo dos Padres deve destinar-se à implantação de um Parque Nacional e jamais um parque eólico”

Quem não defende as fontes ditas alternativas de geração de energia elétrica, como os aerogeradores, pretensamente menos impactantes ao meio ambiente? Com exceção da presidente afastada, mais preocupada em como fazer para estocar o vento, quase ninguém. Também sou favorável à geração de energias que causem menos impacto ao meio ambiente, mas não em locais mais apropriados à preservação da natureza, como é o caso do Campo dos Padres, ponto culminante de Santa Catarina localizado entre os municípios de Bom Retiro e Urubici, nos limites com municípios próximos, a leste da Serra Geral.

Um grupo econômico pretende implantar um gigantesco parque eólico com 240 torres com 100 metros de altura cada uma no Campo dos Padres. Acontece que a região está classificada como de importância biológica extremamente alta para a conservação da biodiversidade, com base em extensos estudos que envolveram centenas de cientistas no Brasil, resultando no Mapa de Áreas Prioritárias para a Conservação, constante da Portaria 09/2007 do Ministério do Meio Ambiente. Em outras palavras, o Campo dos Padres deve destinar-se à implantação de um Parque Nacional, cujo projeto de criação está pronto e jamais a um Parque Eólico!

“Um país sério protege suas belezas cênicas como cachoeiras, cânions e seus pontos culminantes e faz deles, através do turismo, o verdadeiro motor do desenvolvimento inclusivo e sustentável. O Campo dos Padres e o conjunto de serras que o circunda, além de fantástica beleza cênica, se constitui num dos últimos blocos homogêneos de florestas com araucárias e campos de altitude com elevado grau de preservação que ainda restam em Santa Catarina” (W. Schäffer) e isso simplesmente não passou pela cabeça dos que pretendem implantar esse inadmissível projeto no local.

Barack Obama, presidente dos Estados Unidos, declarou há poucos dias que cada dólar investido em um parque nacional rende 10 dólares nas economias regionais em que ele está inserido. A região do Campo dos Padres, uma vez criado o Parque Nacional, tem potencial capaz de competir com o turismo do litoral, com a vantagem de oferecer atrativos ao longo de todo o ano, com evidentes benefícios econômicos e ambientais para a região em que estará inserido. Se estivéssemos em meados do século passado, tudo bem, predominaria a visão do Parque Eólico no lugar, coisa que agora, em plena realidade socioambiental do século 21, não tem cabimento.

Artigo 3 JSC de quinta, 14/07/2016

“O problema não é o parque eólico (que a população é a favor e não abre mão) e sim o local de implantação” (Destaque da redação).

O Estado e o vale do Itajaí sofrem sérios reveses pelas más condições das rodovias e suplica há anos pela duplicação da BR470, a rodovia Ingo Hering. As obras arrastam-se há um bom tempo sem que tenhamos, até o momento, um metro sequer de rodovia duplicada. As importantes pontes sobre o Itajai-Açu em Gaspar e Ilhota, vitais no contexto de duplicação da Ingo Hering, também avançam aos espasmos e tropicões.

Enquanto milhões de pessoas e a pujante economia do Vale necessitam de rodovias e outras obras que custam a avançar, surge agora uma proposta de construção de mais de 60 km de rodovias ligando o nada a lugar nenhum. Por qual razão implantar tais rodovias num local de difícil acesso, com no mínimo 7m de largura para umas mil carretas acessarem o local uma única vez? É o que se pretende fazer com a implantação de um parque com 240 torres eólicas que, junto com linhas de transmissão e outros impactos, perpetrará um estupro paisagístico e ecológico num dos mais importantes e delicados ecossistemas do Estado e quase único no Brasil.

O problema não é o parque eólico (que a população é a favor e não abre mão) e sim o local de implantação. Quem propõe esse descalabro, objeto de minhas duas últimas colunas aqui no Santa, é a empresa Serra Azul Geradora de Energia S/A, para o Campo dos Padres, o ponto culminante do Estado.

No relatório de impacto ambiental apresentado nas recentes audiências públicas de Urubici e Bom Retiro, os maiores e prováveis impactos dessa proposta não são qualificados e muito menos quantificados pela empresa Serra Azul. Entre as graves falhas e omissões, desconsiderou recursos hídricos, espécies endêmicas, os importantes ecossistemas de campos de altitude e muito menos a presença de turfeiras e não mencionou em momento algum o atributo beleza cênica. Ignorou a relevância e importância ambiental dessa área única e conhecida há muitos anos, de incrível potencial turístico, bem como a existência prévia de aprofundados estudos que resultaram no projeto de criação, no local, do Parque Nacional do Campo dos Padres.

No processo para a criação do Parque Nacional, que precede qualquer outra atividade prevista na região, aconteceram 4 audiências públicas onde nenhuma outra proposta foi apresentada. Por que isso foi desconsiderado?

Quem faz a proposta do parque eólico certo no lugar errado é o Sr. Carlos Kreuz, ex-presidente da FATMA, agora representante da empresa Serra Azul. Será que a jaquatirica fez estágio no galinheiro para melhor acabar com as galinhas?

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